Se me entorpecessem desavisada os sons amorfos e os olhos de tempestade, e se me entorpecessem porque é nosso mero dever hedonista, eu me sentaria no banquete das efusões e das lamúrias e te escreveria com essas farpas.
Mas não te metrificaria. Esboçaria a sina, tampouco. Eu excomungo todos. Dostoiévski, Tolstói, Tchekhov, Soljenítsin. Não dou permissão às palavras para te impor as suas fronteiras.
Se me tomassem os picos de adrenalina e o clima de altitude em uma noite clandestina, eu rimaria as luzes e te assistiria como protagonista da minha cena.
E você saberia que te encontrou a sabedoria de quem conhece os males da terra mesmo sem nunca nela ter pisado. Por todas as vidas que já foram e que serão vividas. Em uma.
Se exalassem os grilhões arrebentados e se tua língua roçasse meus céus, os olhos de tempestade me desaguariam em chuva de verão.
Porque a coreografia dos cardumes é necessária, mas o fluxo e os afluentes são vitais. E ainda bem que nenhum desses aquários conteria os seus oceanos.
E se, por fim, nos escombros da cidade, solos de rock clássico de prenúncio, temperatura oscilante de apocalipse, eu pudesse riscar as calçadas da avenida global, tudo o que eu faria seria segurar sua mão e dançar com você.
Sa che cosa hai dentro, sa quand’è il momento
Sa ballare lento, sa restarti dentro