Os opostos se atraem, dizem. O que se excede em um no outro é exceção. E somos aqueles opostos que deveriam nunca ter dado seguimento além da atração. O que não era para ter sido, mas foi e carrega a marca opositiva já no seu início.
Você caminha entre as brasilidades e gente descolada, de roupa florida e de bem com a vida. Eu caminho com os loucos e perdidos que despejam vinho e poesia sobre a ferida. Você, diurna; eu, noturno. Você gosta de ouvir as respostas e eu gosto de fazer as perguntas.
Eu gosto de música alta e rolê bagaceira; você, caseira ou bar com os amigos. Eu sou cinema e filme, você é livro de cabeceira. Eu livre. Você reservada. Eu sou de cachorro, você é de gato. Você concreta, eu abstrato. Você segue e examina as pistas e as evidências. É toda razão, é sagaz; mas lhe falta a intuição que o vento me traz…
Um ordem no caos, o outro desordem na calma. Em que momento da lógica caótica houve, então, o encontro dos antagônicos? Seguidores de tão distintas direções? Dividiram presença e olhares nos corredores da graduação em psicologia. Você é pura ciência, eu fico entre a arte e a feitiçaria.
Só tenho olhos para a psicanálise e você é terapeuta cognitivo comportamental. Você diz do mindfullness praticável e eu… do inevitável mal-estar. Você tem o jeito manso de falar, comunicação não-violenta e em mim se sustenta a ironia e o sarcasmo por proteção de gente com a fala mansa como disfarce das intenções não sustentadas.
Você veio de coração ferido, anjo caído. E eu, que brinco com os demônios, devia ter pressentido… e, tão logo, saído. Você segue pelas vias do bem material, eu sigo pela conexão espiritual.
Você, fogo fixo. Eu, água corrente. Você queima, eu curo. Você arde urgência e impulsividade, enquanto eu avanço pacientemente. Você, leonina orgulhosa, autocentrada. Eu, pisciano devoto e do outro morada. Sua Vênus em virgem, debilitada. A minha em peixes, exaltada. Do amor eu entendo; do amor eu sei, meu bem. E o destino esteve evidentemente tracejado nesse mapa, mas eu não quis acreditar nesse caminho raso, deixei nas mãos do acaso. Eu fui crente naquilo que você não sente, nem nunca sentiu…
Você persegue os holofotes que não são seus para caminhar na luz da falsa fuga da sombra. “A Força” como carta do tarô. A mulher que imobiliza e domina o impulso do Leão em vez de aceitá-lo na convivência. Eu vivo no silêncio da sombra guiando os caminhos pela luz da lamparina que é a essência “d’O Eremita”. Você se engana na sensação de revelação. Eu respeito o mistério e aceito a incompreensão.
Você vida, eu morte. Você é jogo de azar onde eu acreditava ter sorte. E eu fiz toda minha aposta no oposto. Joguei contra a polaridade universal, além do bem e do mal. Todos os antagonismos sempre estiveram explícitos, mas a última e mais importante oposição somente no final se revelou: eu te amei e você não me amou.
Ser oposto complementar só rendeu felicidade na história da Mônica e do Eduardo. O “nós” foi só um alvo vazio onde seu amor não conseguiu acertar nenhum dardo. Qual o oposto do amor?