O tema do assédio sempre foi algo que causa muita polêmica e extrema repercussão em nosso dia a dia. O que acontece é que na maioria das vezes a mulher não denuncia o ocorrido devido ao fato de que a sociedade tende de forma cruel e irracional culpar a vítima.
A normalização desse crime, fez com que a maioria das mulheres não veja o ocorrido como algo incorreto, ou até mesmo como um crime. Outras, talvez para tentarem lidar melhor com o trauma, tentam pensar que isso é normal, que faz parte do jogo, ou até mesmo que é algo comum serem olhadas de forma sexual mesmo sem darem motivos e serem tratadas como um objeto. Existe a falta de consciência de que o comentários agressivos maquiados como elogio ou cantada não é um mero constrangimento, o que na verdade é um crime.
Muitas das vezes o que as travam mediante a denúncia é o medo de que ninguém acredite nelas, e então vem as seguintes justificativas da vítima para não terem que ir até o fim, ” Eu me enganei, ele não me tocou”. Eu não achava que as pessoas se importariam. Se eu não estivesse machucada, e sangrando, quem se importaria?”.
Assédio é um crime complicado, que ocorre de forma escondida, em lugares ocultos, longe de espectadores. Daí a importância de a palavra da vítima valer muito, porém infelizmente a palavra da mulher ainda não é vista com desconfiança.
Com toda a certeza a vítima tem medo do agressor. Medo, apenas isso. A palavra medo é dita diversas vezes pela grande massa de vítimas de assédio, que temem o poder de julgamentos na sociedade – não só de acabar com suas carreiras, mas de expô-las ao ridículo.
Vítimas desse tipo de violência tendem a desenvolver síndrome do pânico, medo da morte, de serem assediadas mais vezes, de terem sua família agredida. A violência desse porte também destrói a autoestima da vítima e a humilha, acabando com sua capacidade de auto defesa.
As vítimas tendem a sentir vergonha do que passaram, e questionam o tempo todo se a culpa foi delas. O sentimento de culpa é algo que a grande maioria sente. Existe uma ideia absurda de que algum comportamento pode incentivar o agressor à prática. Muitas mulheres deixam de denunciar porque têm medo de serem responsáveis pelo fim da carreira de um sujeito. Muitas pensam na família do agressor. Outras, diz, que sentem culpa pelo crime, como se fossem responsáveis pelo comportamento repulsivo do abusador.
Muitas mulheres são postas na posição de culpadas quando procuram ajuda em uma delegacia para registrarem o boletim de ocorrência, normalmente surgem perguntas como, “Você costuma sorrir demais para as pessoas?”, “Costuma fazer muitas amizades com homens?”, “Porque estava sozinha no momento do ocorrido?”, “Você estava com uma roupa curta?” – isso nada mais é que uma forma de perguntar: “Você é a culpada pela a atitude dele?”.
E quando o assédio é no local de trabalho, vítimas temem perder o respeito e a admiração dos demais colegas. É o caso da maioria que são vítimas de assédio. “Sabia como ele tem bons resultados. Se o expor, jamais vão conseguir crescer aqui dentro”. O medo que a vítima tem de reviver o assédio ou denunciá-lo e passar a ter sua reputação ameaçada é um algo cruel que a sociedade impõe à mulher, essa perversidade na análise da palavra da mulher. A observação do acontecido é deslocada para a vítima, não para o agressor. A sociedade e acaba pondo, assim, a culpa na vítima, sua palavra acaba sempre sendo vista como possível falsa denúncia.
Desta forma a vítima desenvolve um certo receio de enfrentar a situação de frente e não dar em nada, sim há o receio “justificado”, de ser exposta e não haver resultado – É um medo justificado por causa dessa difícil comprovação da violência.
As dificuldades para denunciar casos de assédio não são só na polícia, a forma como as sociedade ainda trata a mulher pode levá-las à se calarem, ou seja, devido aos questionamentos com perguntas que tendem a por a culpa nela. Crimes assim são tratados como um problema entre homem e mulher, não como problema da sociedade, crimes como esses infelizmente costumam ser varridos para baixo do tapete, tratados como se fossem um problema da vítima e do criminoso.
Ao perceber que não estão sozinhas e que várias mulheres passaram pela mesma situação, uma mulher dá força para que a outra relate a violência que sofreu, para garantir que mais mulheres denunciem casos de assédio sem que uma primeira tenha que ter muita coragem para isso, é preciso que a todos como parte de uma sociedade crie um ambiente seguro para nós mulheres – o que ainda não acontece. A culpa não foi sua, e quando mais cedo tomar coragem para denunciar o abuso, poderá contribuir para que outras mulheres não passem pelo mesmo trauma. Denuncie!