Amor mal resolvido: Quem nunca teve um?

O término de um relacionamento não é nada fácil de lidar, principalmente para aquele que você não queria que acabasse e teve que aceitar involuntariamente a decisão do outro. Cada um sofre a seu modo.

Todos dizem que superar o sentimento e seguir a vida é o melhor a fazer para o próprio bem estar. Porém por muitas vezes existem aquelas que ficam presos ao sentimento, não conseguindo esquecer a pessoa amada, gerando sofrimento e paralisando a própria vida.

Ao contrário do que pensam não esquecer a pessoa amada não é sinal de impotência, pode ser “bom” em algumas situações, uma vez que as lembranças tornam-se um refúgio como forma de compensar alguma dificuldade atual. Cada vez que a vida apresenta-lhe alguma frustração, a pessoa recorre ao antigo amor guardado na memória e, em sua imaginação, vivencia situações de satisfação onde não há mágoas ou ressentimentos.

A pessoa cria e recria cenas de amor sobre tudo aquilo que não foi vivido. Idealiza o outro atribuindo a ele qualidades que muitas vezes não as tem. Ela imagina-se num tempo futuro onde tem a certeza, mesmo que irreal e mascarada, que seria feliz e completa se estivesse com a pessoa amada. E mesmo que a realidade insista em mostrar que seu amor está em outra, a pessoa sonha o dia em que este outro vai “acordar” e reconhecer que este amor vale a pena e pedir para voltar.

Amores assim deveriam ser perfeitos porque se alimentam de fantasia e nela tudo é possível. No entanto esta fantasia não é real e, ao se deparar com a realidade, o sofrimento aumenta.

O “pensamento mágico”, onde tudo é permitido, é característica de um universo infantil para lidar com os perigos e ameaças que se teme. Então a pessoa imagina situações em um mundo que gostaria que fosse, onde ela pode ser o que deseja, mas não é real. À medida em que crescemos vamos aprendendo a buscar outros recursos mais adequados e “reais” para lidar com as dificuldades da vida.

Algumas vezes, recorremos também a este modo de funcionamento para fugir ou afastar a dor, criando uma imagem idealizada. Esta forma deixa de ser um recurso saudável quando é persistente, enganando a mente, impedindo que a pessoa tenha condições de pensar sobre as situações que precisa enfrentar e assim mudar de atitude.

Nossa mente não vive apenas de recordações. Ela pode e deve ser preenchida com situações mais próximas da realidade, como o encontro com novas pessoas, ou qualquer outra situação que lhe proporcione prazer de alcançar vida real e não imaginária.

É importante encarar a realidade, aceitá-la, para evitar sofrimentos desnecessários. Só assim será possível abrir-se para um novo relacionamento sem que a mente esteja presa no passado. Mas é preciso antes elaborar este término dentro de si começar imediatamente a se envolver com outra pessoa com frases do tipo “a fila anda”, só revela o quanto esta pessoa ainda está muito envolvida com este passado. Desta forma, as chances de dar certo este novo relacionamento serão poucas, correndo o risco de se machucar novamente.

Entrar num relacionamento para esquecer outro só aumenta o desconforto. É um remédio com mais efeitos colaterais do que benefícios, depende de uma grande dose de sadomasoquismo, para se torturar e maltratar o próximo.

Você tratará de comparar duas pessoas absolutamente diferentes dentro de um mesmo amor como se fossem semelhantes, como se a primeira fosse naturalmente suplantar a segunda. É transformar a vida num filme sem pé nem cabeça onde tal ator que morre no meio do filme e o papel se mantém, apesar do contraste físico da troca.

Começar um romance quando não terminou o anterior desencadeia um show de comparações. Não desfruta condições de enxergar o atual parceiro, porque ainda se fixa na saudade. Mira só a falta, no desejo de suprir a presença das tarefas do antecessor. Atende a uma reposição imediata para garantir a rotina, distante de uma verdadeira novidade.

Você não procura um outro alguém, porém o mesmo alguém, para adiar o fim e a transformação da personalidade, pois na separação, sente ausência daquilo que você era, então reitera o que era alterando a contracenação.

Na essência, nada muda. Repetirá o que deu certo e também o que deu errado, para testar, somente testar, o potencial do candidato, avaliando se haverá resultados diversos para fórmulas conhecidas.

Não vive, mas joga. Não aproveita, mas gera desempenhos.

Puxará discussão sobre o que assistir na tevê e aguardará a reação com curiosidade ou inventará programas tediosos para conferir se existirá paciência. Nem quer aquilo sinceramente, são laboratórios da implicância, e movimentará o dia, num labirinto involuntário de perguntas e respostas, para saber quem é o melhor e o quem é o pior, somando pontos e criando uma competição imaginária.

Quem chega estará em desvantagem – nunca vai poder se apresentar, destinado a servir de dublê do que foi embora. Será chamado nas horas tristes para segurar a barra. Aparecerá para confortar a solidão e a melancolia, o choro e o desânimo. Não receberá o roteiro completo, posto em cena unicamente nas partes perigosas da trama (o pulo, a queda , o choque).

Danielle Taborda

Acredito que todos estamos muito longe da perfeição, no entanto ninguém vive sem lutar por ela. Me dei conta de que a perfeição está nas coisas mais imperfeitas e menos percebidas da vida. Conste que penso que o hoje é um instante e um sopro.

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