Encontro

Olhos que perguntam com seu reflexo luminoso, o que querem de mim? Não são apenas dois suportes para a pergunta fundamental da humanidade (quem és?), mas são também expressões de um desejo que se mantém oculto. Sim, seu olhar sempre foi isso: aquilo que te oculta na medida exato que te revela. Janelas entreabertas pra sua alma sobretudo porque suas perguntas te interessam mais do que as respostas que terias de dar. És mistério, porque misterioso descobres o mundo.

No estado mesmo de infância, nascedouro, frescor teu olhar sempre te mantém – e com ele teu mundo, continuum do qual não escapas, é sempre descoberto pela primeira vez. Como é possível que imprima tamanho desejo ao mundo e o descubra sempre renovado? Como é que tua sedução se desdobra ali mesmo na inocência de quem ela devia ser a contradição?

Essas perguntas são aquelas que fiz e faço a cada vez que te olho. Não se saber é, talvez, o melhor dos segredos, mas também o pior deles. Porque aquilo que é secreto também é sagrado e o que se sagra quase que pede profanação. No entanto: como profanar aquilo que é ele mesmo pura novidade? Como esperar inocular qualquer grama de corrupção naquilo que nunca se quis puro e ainda assim se faz sagrado?

O que é teu olhar, afinal? Texto cifrado entoado como interrogação, toque vindo pela luz que dispensa o tato (e ilumina recônditos que o último apenas anima), sopro de frescor lá mesmo onde o mundo só quer se manter… Variações do tema da pergunta infinita que é teu existir quando ao meu interroga pela sua mera presença.

E tua presença, o que é? Casamento de pares que, em sintonia, dançam e em seu mover-se fazem um mundo. Luz e sombra – e apareces em tua forma; preto e branco – e fazes do mundo teu canvas; som e silêncio – e o mundo faz-se musical. Também aqui variações, mas de uma simples lição: as contradições não se resolvem, mas criam um mundo possível. Seu nome é encontro.

Uriel Nascimento

Doutor em Filosofia Moderna pela PUC- Rio. Também graduado em Filosofia pela Unirio, mestre em Filosofia (Estética) pela PUC-Rio. Psicanalista, integrante do Núcleo de Autismo e Psicose da escola Letra Freudiana. Intérprete e Tradutor Ing<>Port. Dançarino bolsista da Escola Jaime Aroxa. Autor do livro Aquilo que não foi dito, pela Razzah Publishers.

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Seja um dia, seja uma noite, as coisas ficam claras. E elas simplesmente não importam mais. Eu não sei mais o que você está sentindo.
Se me perguntarem qual amiga que sou, vou responder que sou a amiga que fica. Aquela amiga que segue a vida, mas sempre encontra um tempo.