Ela, psicótica

mulher com a lua

A lua mingua
Entrelaço minhas mãos nas tuas no nosso gozo compartilhado

Contigo é diferente, tem o toque do reconhecimento
E então me sinto em casa
Em qualquer lugar, em casa

Aqui, nesse bangalô em Teresópolis parcamente mobiliado
Sua nudez envolta em erva barata passeando pelo meu mundo
E essa é toda realidade que quero

A lingua mingua e seu cheiro cresce
Toma conta de tudo o que é real
E do que não é, principalmente

Ouço distante uma canção entoada num lamento
É sempre lamentosa a paixão (((não fosse assim, seria qualquer outro sentimento

Efusão é vazio, amor, me entenda
Tudo que é excessivamente bom é necessariamente amargo em sua essência

Enquanto a lua mingua, a cena vai minguando junto: MPB soft de algum clássico do nosso cancioneiro, incenso de canela

Sinto uma paz que há muito não me encontrava – Estou bem – Estou feliz ((( Mas eu trocaria essa paz pelo caos de te ver chegar ébrio trajado somente com a bandeira do Brasil aqui em casa

Estou aqui, no conjugado soca-corno no meio do centro urbano, cercada pelas massas de outros tantos indivíduos isolados em si mesmos e indiferentes ((( Você? – É só mais uma dessa tantas indiferenças, absorto no que quer que seja que te faça feliz e te dê a dose obrigatória de hedonismo, espero

Eu iria agora, sim – A um lugar, a qualquer lugar (((contigo, que fosse

Mas não posso.

Porque nada disso é real.

Eu mesma… nunca existi.

Carolina Palha

Editora, mestre em psicanálise das perversões sexuais e afeita à bagaceira. Nunca soube escolher entre praia, dança e Coca-Cola.

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Seja um dia, seja uma noite, as coisas ficam claras. E elas simplesmente não importam mais. Eu não sei mais o que você está sentindo.
Se me perguntarem qual amiga que sou, vou responder que sou a amiga que fica. Aquela amiga que segue a vida, mas sempre encontra um tempo.