Os clichês românticos me cansam. As narrativas dos apaixonados esforçados em fazer das histórias mais interessantes do que realmente são. Amar é fácil nas palavras dos escritores versados em te mentir. Talvez, nem mesmo eles saibam o que há além dos lirismos baratos que se apresentam na tentativa de definir as indefiníveis minúcias do aparecimento do que se diz amor; além das borboletas no estômago, dos cheiros alongados nos lençóis, dos abraços onde podemos ser protetores e protegidos. Os poetas não aprenderam a amar.
O que se ergue em cena não é amor. O verso ornado tampouco o é. A poesia está nas cenas não mostradas, nos erros de gravação, na crueza dos versos nunca ensaiados, nunca esquecidos e, sobretudo, nunca pronunciados. As declarações já carregam uma tentativa de grandiosidade que o amor rejeita. Tenho, nas minhas mãos, as tuas mãos; e, nas linhas das tuas mãos, as minhas: o meu destino é teu, mas esse caminho se perdeu; não tenho mais as tuas mãos para chamar de minhas e, nas mãos vazias, ergo um reinado solitário de reis sem rainhas. Todo clichê é um ensaio e o amor não é afeito aos ensaios, ergue-se nos inesperados e desinteressantes à primeira vista.
E a pompa dos monarcas não veste bem o amor, que não aceita hierarquias. A divindade aos olhos do amante deve quebrar-se para o verdadeiro afeto elevar-se dos cacos, das sobras da queda do divino. Os atalhos ao real te fazem trilhas em círculos e jamais te deixam encontrá-lo – eis os perdidamente apaixonados, trilhando as mesmas fantasias santificadas de novo e de novo em outros santos. O amor é profano!
Terreno, banal e revolucionário. Eu quero os protagonistas complexos que não vivem o amor para sempre, mas que sempre vivem para o amor. Não quero suspiros nas histórias de descrições comuns e enredos tediosos da paz que encontrei em seus braços; de seduções à meia luz – as mais fáceis, por sinal; de ligações inesperadas nas noites em que nada parecia ter sentido ou de términos que vieram para o bem.
Eu quero o agora; e isso por agora, porque depois eu já nem sei. Eu quero o sincero nas descrições incomumente reais: o que realmente tira o fôlego e nos mata. A guerra e o caos do sangue que perde o rumo quando escuto o nome de quem eu quero autorizar a me ferir com um coração partido. Quero suspiros ao protagonista dizer não ser capaz de amar para sempre, pois o para sempre fica muito próximo do nunca mais.
– Não sou capaz de te amar o tempo inteiro, como não sou capaz de fazer nada o tempo inteiro. Por ti, tenho sentimentos ambíguos a me dar e tirar a vida simultaneamente. Tenho excessos e exceções; não te tenho no pensamento o tempo inteiro, mas meu pensamento tem o tempo inteiro, a eternidade, quando você decide aparecer nele.
Pode ser – e é bem provável – que eu seja só um alucinado jogando palavras que tentam tingir o amor de algum sentido e eu mesmo o desconheça tanto quanto a quem direciono a minha ironia; ou esteja cansado demais do irreal querendo algo para tatear. Dizem que o açúcar esconde o sabor das coisas e que dessensibiliza o nosso paladar. Tenho bebido muito café e encontrei no amargor algo que jamais teria encontrado no enjoo doce seu amor: o gosto escandaloso da minha presença genuína.