Você queria comigo fazer um todo, uma unidade constante que nos englobasse em uma coisa só. Sem nunca me perguntar se era o que eu queria, sem nunca se perguntar quem eu era, tentava de todas as formas me engolir dentro de você, tornar-me um convosco.
Pois mal sabia tu que tu eras apenas um caco, uma parte mal ajambrada que pouco fazia para poder juntar-se, pontiaguda que era, cortante que era.
Sabe, esse é o problema dos cacos, no geral: espalham-se, fazem bagunça, cortam a todos, mas nunca formam uma totalidade como gostariam, nunca são um todo e, precisamente por isso, gostam de fazer com que todos sejam apenas suas partes.
A fagocitose por vocês desejada é apenas tão presente quanto o é a vossa incompetência em ser unidade, posto não conseguirem ser uma.
Ao fim e ao cabo, é isso: como não se sabem unitários, singulares, independentes, atentam contra tudo que assim for pois só sabem ser o que são. Cristalizados em sua forma vidro predileta, agonizam por serem a única coisa que o vidro pode ser diante de outra coisa: reflexo e, portanto, secundários.