Quando as horas põem-se a morrer
e finda mais um dia em tons de azul e rosa
em meu rosto, resta só uma lágrima teimosa
é a minha saudade que insiste em escorrer
A cada instante se afasta e linha do horizonte
ao passo que aqui permaneço; inerte e silente
vejo o sol deitar e o tempo seguir adiante
eis minha solidão ainda mais permanente
À tua espera, paciente, de poente a poente
vi, diante de mim, uns cem dias e mais mil
e se fez meu olhar cada vez mais descrente
a se perderem as vistas no vasto deserto anil
À tua espera, inocente, não segui em frente
aguardei, então, a tua volta, sem previsão
e de repente, não mais que de repente
senti que o vento soprava n’outra direção
[O vento não volta mais pra perto desse cais]
E o vento, outrora quente, desliza morno
tal qual o choro que foi ficando no caminho
sozinho, sequei meu pranto e calei meu canto
pois não há sequer prenúncio do teu retorno
A brisa fraquejante já não traz nenhum presságio
pois corre tanto pra morrer na areia, abatida
e, entre a partida absoluta e a volta irresoluta,
com pesar, declaro que é a hora do naufrágio!
De peito aberto, guardei um abraço tão extenso
tal qual a minha espera, que não sei até quando
mas, aproveitando que estou de braços abertos
irei lançar-me num voo ao horizonte, tão imenso!
Ao luzir dos primeiros traços de um novo dia
impávido, irei abandonar, enfim, este cais…
Respirar novos ares em outros mares – alivia!
deixar-me levar por entre os pontos cardeais.