Vem Conversar

Cais

I.
Quando o horizonte põe-se bicolor
e em tons de azul e rosa a tarde finda
aqui permaneço à tua espera ainda…
e somente o mar conforta a minha dor

Provo da paz e da agonia,
há mansidão no vento e na maresia
e aflição na dúvida do teu regresso
mais um dia, mais um dia e despeço…

Frente ao teu olhar tão vasto e sereno
faz-se o deserto anil muito pequeno
e ínfimo perante tantos memoriais
fica o meu longo aguardo neste cais

Mais um fim não definitivo, mais um ocaso
trazendo o breu até onde a vista alcança.
Ouço, assim, cada onda a se romper no raso
no vai-e-vem das águas, benta em esperança

[As ondas vão, mas não deixam de voltar]

As gotas, então, se confundem no ar:
desertoras do mar ou de olhos marejados
– quem nunca viu a partida de quem ama 
não sabe o drama de quem só pode esperar.

Sem direção, na saudade não há cais
sem paz, à deriva das horas que se vão
– Alguém que na tormenta o pranto chora
sem fé na qual se possa agarrar

Mas a angústia decai e se desfaz
na tua lembrança que me lança neste mar
– Alguém que em memórias se derrama,
inflama os vestígios pra se esquentar –

E ao céu no qual vejo o teu cabelo preto,
em profundo misticismo eu prometo:
aportei em ti e daqui eu não saio mais
e o tempo vai passando nesse leva e traz..

Matheus Moreto

Escrevo na ambivalência: dar voz ao que me falta o ar é silenciar o que não me deixa respirar. Psicólogo, pisciano, passageiro. Meio luz, trilha e cachoeira; meio caos e rolê bagaceira

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