Da sororidade que nos falta

Que atire a primeira pedra quem nunca odiou Umazinha sem nenhum motivo real. Sem que a tal Fulana tivesse feito ativamente qualquer coisa contra. Pior, que já odiou uma Fulaninha por causa de um crush.

É, mana, nessa, todas nós abaixamos nossas mãos enfurecidas e disfarçamos, olhamos pro lado fingindo que nunca aconteceu, mas lá no fundinho, naquele cantinho que só nós acessamos, sabemos que sim, já fizemos isso.

Eu não te culpo. Eu não nos culpo. Por um simples motivo.

Fomos ensinadas a odiar umas as outras. Não foi só isso. Fomos ensinadas a odiar a nós mesmas. Como poderíamos não transferir esse ódio para as outras?

E esse ódio, que nos foi internalizado, que se materializa comumente sob a forma da suposta “competição natural feminina”, grita em dedos apontados.

Dedos apontados para a mulher que optou por terminar um relacionamento. Dedos apontados para a mulher que “pegou vários”. Dedos apontados para a mulher que cometeu algum deslize e foi “cancelada”.

Toda pessoa é um universo particular, que ninguém mais faz ideia do que acontece ali. Mas se é uma mulher, as guerras são maiores. Você é mulher, você sabe do que eu tô falando.

A batalha que travamos já vem com selo de derrota, com menosprezo, com dúvida, com desconfiança, com ordens e posses sobre quem somos, o que pensamos e o que devemos pensar, como devemos agir. Essa lista é interminável.

Para nós, mulheres, existir não é natural. Nós precisamos provar que somos merecedoras de estar aqui. Que temos nossos méritos, que temos nossos direitos.

E o mais triste nisso tudo é quando precisamos nos provar para uma outra mulher. É quando somos desacreditadas por outra mulher. É quando temos dedos apontados por outra mulher.

Não cabe à Outra, à Fulaninha se dar ao respeito. Cabe a cada uma de nós ver as guerras por trás das trincheiras das aparências. Ver além do ódio que nos ensinaram. Ir além desse impulso que parece natural de apontar os dedos.

Eu acredito. Eu sei que aí no fundinho, por mais sem esperança que as coisas te deixem, você acredita também. É possível juntarmos todas essas pedras, as que nos atiraram, as que atiramos, e fazermos o nosso castelo.

Você vem comigo?

Carolina Palha

Editora, mestre em psicanálise das perversões sexuais e afeita à bagaceira. Nunca soube escolher entre praia, dança e Coca-Cola.

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Seja um dia, seja uma noite, as coisas ficam claras. E elas simplesmente não importam mais. Eu não sei mais o que você está sentindo.