Ele? Ele era Escorpião, é óbvio.
E que atire a primeira flechada o cupido que nunca se entorpeceu nas garras de um escorpiano, coisa que duvido.
Quem nunca se apaixonou por um escorpiano – e, de preferência, com uma dose de platonismo, com uma dose de amor não correspondido -, me desculpe, mas não viveu.
Só conheceu os extremos sem escalas, dos golpes de dopamina ao lodo pegajoso do fundo do poço, quem se viu enredado pelos filhos de Hades.
Escorpião, o dono do submundo, o dono da morte, se você pensar bem, é inevitavelmente o senhor da vida. E de todas as outras coisas, Zeus que não me ouça.
Brincar nessas searas tão ambíguas te deixa mesmo nas fronteiras em que os extremos se chocam. E se confundem.
E ele era Escorpião do primeiro decanato, então pode jogar todos os clichês em cima, da rendição da posse ao cativeiro do sexo.
Ele era Escorpião, envolto em charme, mistério e máscaras. Tão típico. Ele era Escorpião, de camadas, ruídos e reservas. Tão cínico.
Ele era baixinho, também, endossando de um jeito até cômico o clichê de que os piores venenos estão nos menores frascos. Como os escorpiões mais venenosos, inclusive.
Ele não era venenoso, não é isso. Eu sempre interpretei mais como uma droga. Dessas que viciam rápido, dessas que viciam sem aviso, dessas que viciam intensamente.
Dessas que causam enlouquecedoras crises de abstinência. E te fazem cruzar a cidade pela madrugada, e te fazem acabar com o maço de cigarro na janela do apartamento. E te fazem cruzar seus acasos.
Ele era Escorpião. Como seria diferente?