Eu amo você, ou, precisamos banalizar o amor

Eu sempre achei bem triste quando as pessoas me falam “eu só amei uma pessoa na minha vida”. Ou duas. Ou três. Eu ouço isso e sinto uma enorme tristeza pela pessoa, principalmente porque as pessoas falam isso como se fosse uma virtude, como se fosse a única maneira possível de amar. Guess what? Não é. Amor não é um vidrinho pequeno de perfume que você só usa em ocasiões especiais. Senão corre o risco de você guardar esse vidrinho tão bem guardado que nunca encontra a oportunidade perfeita de usar, porque a oportunidade perfeita não existe. Ou de se arrepender de ter usado seu vidrinho especial com alguém e não ter dado certo.

Eu me orgulho de dizer que já amei dezenas de mulheres. Eu amei todas as minhas catorze ex-namoradas (eu gosto de namorar, ora bolas) e muitas outras mulheres com quem me relacionei mesmo sem ter namorado formalmente. Você leu certo, eu amei de-ze-nas de mulheres. E você pode ter certeza que o meu amor por cada uma delas, cada um do seu jeito, não era menor ou menos importante ou mais “fraco” que o seu amor por uma pessoa só. Há maneiras diferentes de amar, eu não amei todas essas pessoas da mesma maneira. Não amei a pessoa com quem morei por dois anos e era uma das melhores pessoas que eu já conheci na vida da mesma maneira que eu amei a minha amiga com quem eu tinha uma relação de amigos “coloridos”, como dizem os jovens.

A língua português esconde o amor, trata o “eu te amo” como um segredo que deve ser guardado a sete chaves e somente ser revelado para quem for capaz de retirar a Escalibur da pedra. Em inglês, I love you, em espanhol, te quiero e em francês, je t´aime, são expressões que não carregam o peso do eu te amo em português. Nessas línguas você pode amar alguém com quem você se relaciona há um mês, há um ano ou uma amiga com quem você faz sexo de quando em vez. É amor, não deixa de ser. Amor romântico, amor de gostar muito, amor de amar estar por perto, amor de gostar de gastar tempo com a pessoa, ou pensando nela, mesmo sem estar apaixonado, ou estando pouco ou muito.

Por isso eu escrevo, (quase) sem (muito) medo de você botar suas coisas numa Kombi e fugir pra Nova Iorque pra morrer de Coronavírus só pra se livrar de mim, que eu amo você.

Eu amo a sua companhia, amo a ansiedade que dá os segundos antes de você entrar no meu carro ou de você vir na minha direção e me dar um beijo. Eu amo você pegando sol suada na minha poltrona caríssima, só de calcinha, absorta na leitura e longe do mundo, sem nenhum medo de eu pular em cima de você e arrancar a pouca roupa que você ainda está usando. Eu amo como seus pés procuram meus pés de noite mesmo que todo o resto dos nossos corpos já estejam mais grudados que página de revista pornô guardada na gaveta. Eu amo como você me olha e me segura quando estamos fazendo amor, como se quisesse garantir que eu não sairia dali por pelo menos umas quatro horas. Eu amo a sua honestidade brutal, amo como nós admitimos que estamos errados sem problema nenhum, amo a paz que me domina quando estamos abraçados vendo filme (você dormindo, no caso), falando por cinco horas ao telefone ou você lendo suada no sol sem parar quieta na minha poltrona caríssima que é a coisa mais cara na minha casa inteira. Eu amo você, mas, dependendo do ponto de vista, eu não te amo. Tudo isso é amor, mas o meu amor, de quem já amou dezenas de pessoas, não o amor secreto guardado num potinho pra alguma ocasião super especial. Não que meu amor não seja especial, para pessoas especiais, mas o que eu posso fazer se dou a sorte de ter tido dezenas de pessoas especiais na minha vida? E você é uma delas. Amo você.

Leo Luz

Leonardo Luz é escritor e roteirista, e não sabe fazer mais nada da vida, a não ser jogar poker e fazer pipoca de microondas.

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Seja um dia, seja uma noite, as coisas ficam claras. E elas simplesmente não importam mais. Eu não sei mais o que você está sentindo.
Se me perguntarem qual amiga que sou, vou responder que sou a amiga que fica. Aquela amiga que segue a vida, mas sempre encontra um tempo.