Ela me esperava encostada numa parede após carregar seu celular no shopping próximo. Baixinha, como disse que seria, cabelos curtos, lábios grossos e olhos vivos: combinação que gritava desejo e curiosidade numa olhada só, ao menos para mim. Voz mais ou menos rouca e com um sotaque carioca marcado, embora as gírias não o fossem tanto. Acelerada, talvez porque a baixa estatura a faça correr, talvez porque anseie viver logo tudo o que pode. Não sei, a nossa distância para o outro é sempre suspensa por um pilar de mistério.
Virou-se para mim quando me viu, me cumprimentou, seguiu comigo até minha casa. Conversamos amenidades até a hora em que estas resolveram ceder lugar, sob as estrelas que nos banhavam na laje, às intimidades e às feridas que nos marcavam. Ser sujeito é estar sujeito às coisas, afinal.
Enquanto matutava como faria para despi-la, quando daria um beijo e coisas assim – como se estar em minha casa não fosse indicação suficiente -, notava ou fantasiava que ela parecia fazer o mesmo. Como bandeirantes, seus olhos desbravavam regiões inteiras do meu corpo e a cafonice dessa frase mais ou menos advém do quão sem graça ainda me sinto pela lembrança de seu olhar desejoso.
Logo quando notou o quarto preparado, o jogo de chiaroescuro proposto, a música, o ambiente enfim, sorriu e deitou-se, como que indicando estar segura de não ser a presa. A massagem e o toque na pele e a lenta despida em nada a abalaram e o que vi por baixo, a escolha específica de lingerie, o perfume, o relaxamento dos músculos ao toque, tudo isso me disse, quase como um grito, o porquê da calma.
“You were there, Two worlds collided” cantava Bishop Briggs enquanto a gente começava a transar e nada parece mais certo hoje para descerrar o que aconteceu e acontece conosco. A colisão, nos diz a Física, pode ser algo que junta dois corpos e os leva pra mesma direção em conjunção e, desde esse dia, isso parece ser o nosso movimento. A proximidade fez e faz com que meses intensos pareçam anos, a proximidade gradativamente refletindo a intimidade. Inocência quase infantil, desejo praticamente inesgotável: marcas de cumplicidade e de corpos que clamam um pelo outro ainda que distantes.
Na soma das iniciais de cada um dos parágrafos, esse incluso, faço-te presente num texto, como te faço presente na minha vida.