Cinco da manhã, acordo. Meu despertador, ordenado pontualmente pela voz via um desses dispositivos modernos, havia feito bem seu trabalho de me acordar. Acordei pesado, meio que como se houvesse sido dragado durante o sono para outro lugar, como se fosse difícil mesmo levantar dali não porque o sono me pesava, mas porque algo me mantinha seguro na cama. Mas o fato era que, difícil ou não, cinco da manhã, nesse dia, acordo.
Motivo de acordar tão cedo não fora trabalho, ansiedade, estudos, absolutamente nada disso: vontade própria. Me pegava desejoso de surpreender aquela com quem divido tanto e, por conta de tanta divisão, sentia que queria dar algo. E daria. O quê? Um pouco da minha presença, um pouco do carinho que, à distância, chegaria antes do café e a despertaria um pouquinho – embora não tanto quanto um café, pretensão tem limite.
Pego meu celular para dar-lhe o bom dia antes mesmo de ser dia – para o mundo, para ela. Sabe, essas pequenas ações, essa ruptura com o fluxo natural das coisas, essa ruptura com um mundo estável, podem não ser nada de grandioso, admito, mas podem ser a abertura de uma possibilidade outra, nunca dantes explorada, por menor que seja. A rotina funcionava mais ou menos assim: ela trabalha e acorda mais cedo, eu trabalho e acordo mais tarde. Ela acorda e me dá bom dia quando o faz ou quando chega no trabalho, ou quando está a caminho…eu invariavelmente dou bom dia quando acordo. Perguntamos da noite um do outro, de como estão os dias um do outro e essa Bossa segue um compasso mais ou menos bem determinado, um dois, três, quatro, um dois três, quatro. Às vezes a gente pode mudar pra outro ritmo, uma Valsa, por exemplo, e ainda assim dançar com o mesmo par. Era como eu via aquela mensagem.
Olho para o celular: ela ainda offline, como esperado. Começo a escrever: “Bom dia, amor, essa mensagem é para que”… “fraco”, penso, e reescrevo: “bom dia, amor. Então, você sempre me dá bom dia primeiro: agora eu inverti. Bom trabalho, boa viagem pro trabalho” … quase, mas não é isso: “Então, você sempre me dá bom dia primeiro. Agora eu inverti: quis que você acordasse comigo mesmo que eu não estivesse aí. Nossos “bom dias” em dias que estamos juntos e sem trabalho são sempre dengosos e cheios de carinho. Essa é uma tentativa de simular uma conchinha apesar da distância. Esse é um jeito de te tocar do único jeito que posso agora: com os traços que deixo na tela, traços chamados letras.”. Envio a mensagem, vou dormir para acordar com a resposta.
Às vezes tudo o que o amor precisa é de poder ser o ritmo fluido que corre do desejo de se apaixonar à paixão de desejar e de volta.