Imediatista. Se não está e-x-a-t-a-m-e-n-t-e como eu quero e quando eu quero, só me resta abandonar. Até meio mimado, diria. Se não for eu o responsável por querer o melhor para mim, o que me resta? Afinal, eu mereço as mil maravilhas. Não?
Sim, mas nem sempre tudo será o melhor o tempo todo e isso não é desculpa para fugir da responsabilidade de crescer em uma determinada situação. Nas relações, nem tudo são flores, mas nem tudo são foda-ses. Ou é somente o melhor ou é motivo de jogar tudo para o alto?
O tempo dos autoindulgentes meritocráticos que tudo merecem o perdão, mas não perdoam. O dia foi muito difícil, deve-se suspender a dieta por um lanche gostoso, uma cerveja. Foda-se, eu mereço esse prazer imediato. O dever é o de evitar as frustrações e o desprazer a qualquer custo.
Nunca vi tanta gente encher a boca para falar de liquidez e superficialidade nas relações ao mesmo tempo que não conseguem suportar as altas pressões que vem com o mergulho em altas profundidades. Se há entrega, chamam “emocionado”. Se não há, chamam Bauman. E, se há algo no intermediário dos extremos, chamam normalidade,
sem graça.
O tédio da rotina, o erro, o normal. O desencanto das falsas expectativas, o real. O encontro com a falha, o natural. O outro desmistificado, o ordinário, o banal. Nada nunca vai ser suficiente para ficar, a não ser que você queira. O esforço diário pelo encontro com o extraordinário é abandonar os prazeres do comum sob nossos narizes empinados.
E eu amo essas ironias e hipocrisias, de verdade. Sobre as ilusões de grandeza da realeza chamada ego. Resolver os problemas exige humildade, apequenar-se diante de si e, talvez, do outro. Nunca vi tanta gente conectada sem estar genuinamente conectada. Conexão exige a humildade da abertura e abertura exige exposição. Não a exposição da
suposta perfeição escolhida a dedo e publicada. De exposição do humilde, não produzido, dos bastidores…
São imperfeitas as flores que arremessamos nos sepultamentos de todas as relações, de todos os planos, de todas as possibilidades que não foram e sucumbiram à vaidade insegura das nossas escolhas por desvincular-se. Ainda assim, são belas.
Ah, mas nem tudo merece a sua presença e o seu perdão. Submeter-se não é da nossa natureza, caso contrário não haveria guerras. O conflito é necessário, a rendição também. Há quem diga que o romantismo acabou, mas ainda sou um daqueles que aos encontros com a não reciprocidade, onde não for benquisto e não haver lealdade nas intenções, oferece um belíssimo e volumoso buquê de foda-ses…