Uma palavra engasga em mim. Por falta de oportunidade, falta de chance, por sua falta. É na ausência que tudo se amplifica, a dor também. Quem finge não sentir, machuca-se mais.
Se eu gritasse por desculpa nesse exato momento, decerto nada seria resolvido. Aprendi com o tempo que se desculpar pode não mudar muita coisa. Não tenho vergonha de admitir meus erros e viver me fez ser honesto com o que sinto. Mas, ainda que me desculpasse, ainda que fosse possível suplicar, quem estaria lá para me ouvir?
Deixe-me contar algo sobre mim.
Ninguém me ensinou o certo a ser feito. Ninguém me instruiu. Não tive bons exemplos pelo caminho. Sozinho, aprendi a me relacionar com o outro e errei muito até aqui – talvez continue errando.
Duas vezes isso já me aconteceu. De ir lá, me desculpar. Olho no olho, peito aberto. Na mais humilde maneira de admitir que sou imperfeito. Da forma mais fiel aos meus sentimentos. Preciso ser ouvido.
– Vim me desculpar.
– Definitivamente, não quero te ver. Siga a sua vida.
Suspiro.
Há mágoa. Há tanto a ser dito. Eu, derrotado.
Esse espaço já não é mais meu, portanto não posso adentrar. Pensava que, ao dizer tudo o que sentia, poderia resolver a situação. Advinha como voltei?
Entendo quando alguém passa por isso e digo: tá tudo bem assim.
Continuo achando que não seja errado me desculpar pelo que fiz de mal. E está tudo bem.
É meio difícil admitir – digo isso até para mim mesmo – mas algumas coisas precisamos “deixar ir”.
Então deixe ir. Toda água lava, o choro também. Nesses momentos, parece até que uma represa explodiu. É muita água, muita. Até secar.
Chorar não diminui ninguém. Foi o que fiz.
Aí você se olha no espelho, cara vermelha e amarrada. Inchado. O peso do mundo nas costas. Você se olha e diz: que bom que eu tentei.
Era o que tinha de ser feito. Agora, é deixar ir.
