Eu vou continuar tomando o café forte amargo às 5h32, enquanto vejo da janela de andar alto a cidade mole nascer
Dedilhando escalas menores como se toda uma vida se resumisse a isso*
Tendo horário e ritual pra tudo, a ordem cotidiana: as posições de yoga cronometradas, os polichinelos em jejum, o banho frio de oito minutos, o suco verde com propólis
E então a minha verdade destrutiva: o incenso forte, as luzes psicodélicas, o Lucky Strike matinal com Coca-Cola ouvindo Zé Ramalho
Que importa você?
Que importam minhas fantasias ou se por entre elas você se esgueirou?
Se penso em descer do palco e te encontrar primeiro
E vice-versa
E versa-vice
Nós dois não somos isto? a gente se perdendo um no outro sem saber onde começa e termina quem
Que importa…
Descer do palco e pular no seu colo
No final do seu trabalho e pular no seu colo
Te encontrar numa rua – dessas ruas de tantas gentes e ruas – e pular no seu colo
Pular no seu colo, em qualquer e todo lugar, que importa?
Sem a gente pensar se tem pessoas em volta olhando
É que, de certa forma, não tem mais ninguém mesmo além de você
O que mais interessa se eu estiver na sua boca?
Que importa se nas minhas fantasias alguma figura então amorfa se conjurou (cavalo de Troia também é presente, não?)
Que importa?
Que importa você?
Que importam todos os outros, então?
Beijos sem paixão, toques sem química, bocas sem tesão, saliva só por gastar, mera necessidade fisiológica de sexo
Que importa?
Que importa a ladainha sobre seguir os passos? – e, menos, se acreditei, ou quis
Não, não, não. Que importa?
Que importam os outros as outras es outres xs outrxs?
todos, todos esses insossos e desinteressantes eles, terceira pessoa, palavra esvaziada de vida –
que importa?
Que importam nós dois? Daí?