Que você me faça mulher

Só por hoje, quero deixar de lado essas rédeas de mim mesma e poder ser frágil no seu colo.

Quero esquecer essa necessidade de não ser vulnerável, de ser guerreira, de fazer acontecer.

Hoje eu quero me deixar em você, sem que isso seja um problema, sem que isso desmereça quem eu sou.

Quero me dizer tua, sem que isso impeça que eu sempre possa assinar de mim a posse.

Quero deixar de lado os muros do dia a dia, minhas armas, minhas farpas, pra me entender como mulher também no teu toque.

Quero me saber assim, pequena e tua, e, nas minhas confusões, permitir encontrar outros tipos de paz também fora de mim.

Quero, sabendo quem sou, que seja legítimo o nosso aconchego, a ponto de te deixar reconfigurar meus mapas.

Quero todos os dias me olhar forte e suficiente, meus olhos vermelhos revolucionários no espelho.

Mas por hoje, só por hoje, eu quero que você me faça mulher.

Carolina Palha

Editora, mestre em psicanálise das perversões sexuais e afeita à bagaceira. Nunca soube escolher entre praia, dança e Coca-Cola.

Comments

comments