Vem Conversar

Repetição

Já tem noites e noites que te sonho sem interrupção

Antes fosse um sonho bom em vez de autoflagelação

Depois de tanto tempo, ainda; e o tempo é convenção

Da cadência desigual à cadência da alma e do coração  

Ora se arrasta pra ficar; ora varre tudo sem distinção

E o descompasso insiste em seguir na mesma direção

De procurar saída onde não há sequer mais solução

De encontrar novidade onde sempre encontrei solidão

Sobre a vontade que se detém: sou refém em detenção

Por desacordo, escolher pelo fim da repetida regressão

Como se o esquecimento fosse uma questão de decisão 

Tal rejeição dos gritos dos enterrados vivos no caixão

Talvez seja, talvez não…e, ainda, meio insano e meio são

São rumores sonâmbulos das memórias sem perdão

Que nos sonhos regressam e repetem o mesmo refrão 

Na dor, na fuga e na busca da rima; repete-se o padrão

Igualmente no reencontro breve da suposta perfeição 

E ilusório o retorno ao meu território sem demarcação

O mundo se apaga quando fecho os olhos, e você, não

A tua presença nos meus sonhos é inevitável invasão

E já não sei se teu beijo vem como bênção ou maldição

Se, quando acordo, resta só um rastro de feliz desilusão.

Matheus Moreto

Escrevo na ambivalência: dar voz ao que me falta o ar é silenciar o que não me deixa respirar. Psicólogo, pisciano, passageiro. Meio luz, trilha e cachoeira; meio caos e rolê bagaceira

Comments

comments

Sair da versão mobile