Já tem noites e noites que te sonho sem interrupção
Antes fosse um sonho bom em vez de autoflagelação
Depois de tanto tempo, ainda; e o tempo é convenção
Da cadência desigual à cadência da alma e do coração
Ora se arrasta pra ficar; ora varre tudo sem distinção
E o descompasso insiste em seguir na mesma direção
De procurar saída onde não há sequer mais solução
De encontrar novidade onde sempre encontrei solidão
Sobre a vontade que se detém: sou refém em detenção
Por desacordo, escolher pelo fim da repetida regressão
Como se o esquecimento fosse uma questão de decisão
Tal rejeição dos gritos dos enterrados vivos no caixão
Talvez seja, talvez não…e, ainda, meio insano e meio são
São rumores sonâmbulos das memórias sem perdão
Que nos sonhos regressam e repetem o mesmo refrão
Na dor, na fuga e na busca da rima; repete-se o padrão
Igualmente no reencontro breve da suposta perfeição
E ilusório o retorno ao meu território sem demarcação
O mundo se apaga quando fecho os olhos, e você, não
A tua presença nos meus sonhos é inevitável invasão
E já não sei se teu beijo vem como bênção ou maldição
Se, quando acordo, resta só um rastro de feliz desilusão.