Me pergunto se você se deitaria no meu peito me pedindo explicações sobre os segredos das estrelas.
Cheiro de grama, meia estação, as sutilezas que aprendi a apreciar sozinho e você rendendo sua soberba nos meus braços.
Eu encontraria eco em você? Eu seria eco das suas brechas incompreendidas?
Me pergunto se nessas noites que me recosto na extravagância de um vinho raro, sorvendo inquisições e mistérios, você se embolaria nos pelos das minhas pernas para eu te fazer minha no tapete da sala.
E em cada gole, décadas e milhas de projeções, constato que burlei a ordem do universo e as leis dos homens para fazer exatamente isso.
O gozo forjado da simetria não cede na queda de braço com o pêndulo irrequieto, que julga escolhas nas ramificações dos caminhos. E se?
Sua aura magnética ainda me queimaria se você me surgisse da chama de uma vela? Se um pássaro deixasse de encomenda teus cheiros no portão? Se nesses cantos de parede me irritassem seus fios de cabelo insistentes?
Me pergunto sobre almíscar fresco no travesseiro e suor represado na mesa do meu escritório. E em todas as suas artimanhas que para mim são fáceis de supor, embora desconheça.
A essência do universo e o sentido da vida: tua boca, tua nuca, a descida da cintura, o êxtase da suspensão, conexão.
A essência precede a existência, disseram. Me pergunto, derradeiro, se nós seríamos. Nós, apenas, a exegese e o fio do sentido. Um mesmo.
É quase alvorada, alguns sons se extinguiram, outros se iniciam, se reiniciam, se perpetuam. O ciclo. Mais uma garrafa vazia se recusa a me dar a mínima resposta.