Se “posse” fosse um verbo, seria frustrar-se
no reflexivo,
no espelho que não corresponde
à transitoriedade das coisas
Pai seria proteger
Mãe, amar, sem dúvidas.
A mentira seria ‘esconder’
e o tempo seria ‘revelar’ e depois ‘superar’
A inveja seria sugar até se transformar
em outra palavra, talvez ‘insuficiência’.
O choro repetido, cada vez mais raro
seria esquecer.
Se o mar fosse verbo, não sei qual seria,
mas seria o oposto de ‘acabar’
Talvez em “mar” só faltasse uma letra
ou mudasse uma letra – pra virar mãe
Origem, forte e infinito.
Água seria nascer; fogo seria renascer
e o desejo seria o fogo no imperativo.
E se eu fosse um verbo,
seria um tanto defectivo
um tanto pretérito imperfeito…
‘Escolher’ não seria o meu, certamente
Estou em viver, em permitir recomeçar
em doar, em doer; e, às vezes, em escrever.