16h32 de um sábado, meio de mês de primavera, céu de inverno.
Olho da janela as nuvens cinza pendendo sobre a cidade fria. Música italiana, porque é preciso ter um quê de impossibilidade de tradução refletindo a irrepresentabilidade das nuvens dentro de mim.
Da caneca, sobe a fumaça do seu chá embaçando meus óculos. A opacidade da visão desanuvia meus pensamentos.
Indomáveis, vão sugerindo formas. Mãos hesitantes alternam-se com mãos de propriedade. Lábios presos de falsas grades alternam-se com as pupilas dilatadas de entrega. E a busca e os murmúrios inconscientes da madrugada. Formas de cumulonimbus, as nuvens de tempestade.
Todas se desfazem rápido, mas o céu continua fechado.
Olho a hora no celular. Hábito de me afirmar pela rapidez com que consigo retalhar a minha alma na tessitura do idioma que se domina.
Mensagem sua, veja só. Sorrio.
Dizem que quando o pensamento é forte, profundo, ele é capaz de conjurar realidades.
Então vem cá, senta comigo embaixo dessas cobertas, faltaram minhas mãos ao redor das suas pra eu te envolver e te aquecer nos meus laços.