Marlboro vermelho (da série 13 coisas sobre você)
Gaúcho não sente frio.
Você tava pelado, apoiado no peitoril fumando quando me disse isso. Eu tinha feito uma piada bem chula sobre o tamanho.
O vento gelado que invadia o quarto marcava a contradição. Carioca sente frio fácil, quaisquer 20 graus impressionam, mas do seu lado não me atingia.
O Marlboro Vermelho na sua mão era o mesmo. Suas mãos eram as mesmas. Os cenários mudavam. Eles sempre mudavam.
Você me pegando com força por trás, escorados na janela, nossa euforia muito mais frenética que a do rush da cidade lá embaixo. O cigarro na boca enquanto segurava com força meus cabelos.
A fumaça quente do Marlboro Vermelho se misturava à do clima, e ambas diluíam juntas nossos gritos, urros, uivos. Toda essa coisa animal tão nossa.
Bancada, tapete, o que tivesse pela frente, a gente nunca pensou muito. Até hoje acho graça quando você me conta daquela foda que você me segurou contra o batente, e eu, tão entorpecida por você, nem lembro de nada além das suas mãos.
São flashes que me vêm à mente enquanto o Marlboro Vermelho me vem à boca. Nada mais fálico, diria minha psicanalista. Flashes de ocorrências parcas e reincidentes desejos.
Faz uns 8 graus lá fora.
Aqui, a cama completamente encharcada de nós dois. De um fôlego só, a compensação pela nossa demora me invadindo em inúmeros sentidos e lugares. E eu molhando sua barba.
Apoio no peitoril, que é outro, é claro, sorvendo a vida pela paisagem urbana. Imersa no caos anódino dos nossos excessos.
Do meu lado, o maço de Marlboro Vermelho pela metade.
É, dessa vez aconteceu.