Vem Conversar

Me arranca dos silêncios me engolindo inteira

Olha pra mim, vê que sou mais do que essas unhas grandes vermelhas, um cabelo da moda e sobrancelhas bem-feitas.

Isso aqui é armadilha pros outros, vítimas que acham que dominam o território.

Pra você é só a fachada a ser despida.

Tira minha blusa. Leva com ela essa minha marra. Tira botão a botão, como quem chega manso, mas depois arranca com força e joga ela no chão, com o afã de quem impera e faz o que quer.

Segura meus peitos com as duas mãos, com força, me puxando pra você. E com as tuas mãos deixa em mim tua assinatura, em gestos espalhafatosos e tensão nos dedos. Deixa em mim tuas histórias e segredos. Puxa meu sutiã pra baixo, chupa forte meus peitos, deixa os biquinhos vermelhos. Chupa meu colo, meu pescoço. Essas marcas da sua boca são as mesmas das conversas noite afora sobre assuntos impublicáveis que igualmente se registraram em mim. 

E confessa.

Com tua boca, confessa. Teus gemidos no meu ouvido, tua respiração ofegante junto com a minha, tua boca selando as nossas trocas. Na minha. E me beija, me morde, me lambe, pavimentando em mim os teus caminhos. Desce as mãos por dentro da minha calça, acessando tudo o que está além de armadura, máscaras, maquiagens, trapaças.

E confessa também de corpo inteiro, com os arrepios, os pelos eriçados, os sussurros, a contorção, a ordem e a redenção.

Me arranca dos silêncios me comendo pelas beiradas, puxando minha calcinha de lado, me fazendo cravar as unhas nas tuas costas te puxando afoita pra mais perto de mim, sem conseguir esperar.

E me arranca dos silêncios com o arroubo do rompimento dos limites, arrebentando minha calcinha e me engolindo inteira.

Olha pra mim, me vê. Toda a seiva do que sou só poderia ser sua.

Carolina Palha

Editora, mestre em psicanálise das perversões sexuais e afeita à bagaceira. Nunca soube escolher entre praia, dança e Coca-Cola.

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