Olhos de inquisição

Não

Não me coloca desse jeito no teu tribunal

Sem direito a escusa e sem defesa

Ré confessa por dolo

Nem dia útil era, não vale esquiva

Mas quando não se tem mais escolha

A não ser acatar?

As imposições do desejo

Das mãos

Da respiração ofegante

Do gemido involuntário e a quentura das pernas

As rezas

Pregando a qualquer entidade

Que poder tenha que extirpe

O sentimento

A anestesia do corpo

Dada pelo excesso

Não me decrete as tuas prisões

Tuas algemas

As cenas

O sutiã azul no chão da minha sala

E o exército rendido

Olhos de inquisição, lábios de veredito

Carolina Palha

Editora, mestre em psicanálise das perversões sexuais e afeita à bagaceira. Nunca soube escolher entre praia, dança e Coca-Cola.

Comments

comments