– Não se pode burlar o inconsciente, babe – sussurrou no meu ouvido entregando um papel dobrado na minha mão. Cheirava a um misto de cigarros duvidosos, perfume caro e suor de fim de noite. Pele abrasada e olhos de esfinge.
Perguntei o que ela mais gostava nos homens, segurando-a pelo punho. Me sorriu um olhar de altivez e se soltou antes de responder. Me encarou já em certa distância, como se soubesse que seus olhos me chamariam de imediato no nosso magnetismo, e me fez a mímica labial: química. Ergueu as sobrancelhas me indicando um sinal para o papel na minha mão. Por um segundo, tinha me esquecido dele.
13.
13 sempre foi o meu número da sorte. Eu não desprezaria a encruzilhada dos destinos. Seus olhos me encontraram do outro lado do salão, mais uma vez. No exato momento das apostas. 13. Mas por que a frase de efeito enigmática sobre o inconsciente? Não se pode burlar o inconsciente. Aquilo dizia respeito ao jogo ou… a nós dois? Havia agora separação clara entre um e outro?
Então eu perdi a rodada. E a outra. E a outra. E a outra. 13 consecutivas. Mas tudo era um truque. As regras do jogo não se mantêm as mesmas por muito tempo. Como as paixões mais incandescentes, nada nunca é o que parece. Nada pode ser o que parece. É justo essa inconsistência que faz o enlace.
O inconsciente, eis o maldito. Ele sempre sabe o que desconhecemos. Atração só acontece onde o inconsciente prevê com sua invejável precisão a impossibilidade. O véu difuso entre o que se aparenta e o que se é. O – necessário – irreal. Foi logo na rodada seguinte que a minha sorte virou. Ainda a distância, ela me mostrou rápido nas mãos a minúscula calcinha. E então eu nunca mais perdi uma sequer quando ela era o prêmio.
Não é à toa que sorte se constitui na fusão dos desejos: fortuna e destino. E desejos urgem sem muita direção.
Não se pode burlar o inconsciente, mas isso seria desejável? Ele sempre sabe onde melhor queimar. Química.