Seis segundos

Se eu conseguisse voltar no tempo, seis segundos, só isso que eu pediria. Seus dedos no meu rosto, mordida de lábio. O sorriso mais bonito, desenhado sobre a curva dos dentes.

Seis segundos.

Era só disso que eu precisava. Se eu só tivesse seis segundos pra te dizer tudo o que sinto, eu voltaria àquele sábado de novembro, primeira vez.

Eu poderia te escrever uma carta, textos compulsivos, músicas sentidas em tom menor – o que já faço – com a minha versão dos fatos, rasgando o peito. Mas eu gastaria latim em vão. Nada do que eu possa te dizer chega perto daquele dia. Nada mais seria tão preciso do que seu toque falando comigo.

Nós dois, deitados depois de descobrir como éramos, você me dizendo que eu ia dormir, e eu, defensiva por padrão, dizendo que não durmo com ninguém.

Você se esquiva quando estamos muito perto, mas se recusa a entender a minha própria defesa. Por quê, se nisso somos iguais?

Naquele lapso, tua boca era o decreto. Seis segundos, suficientes pra eu perceber que não tinha jeito. Você se instalou em mim de primeira. E, no carinho que, naquela dia, você fazia no meu rosto, prendeu num ciclo infinito meu peito e minha mente.

É fácil usar como justificativa a aventura, de que você tanto gosta. Não posso julgar, é a explicação óbvia e fácil, e sabe Deus quantas vezes eu quis acreditar nela. Mas isso não é a resposta. A resposta, meu amor, é você.

Carolina Palha

Editora, mestre em psicanálise das perversões sexuais e afeita à bagaceira. Nunca soube escolher entre praia, dança e Coca-Cola.

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